Por mais que ele quisesse, Diego não conseguia parar de tremer, mas assim mesmo olhava a estrada pela janela do ônibus como se buscando algo que tinha esperança de encontrar.
Cada carro, ônibus ou caminhão que passavam ao lado de seu assento o fazia levantar mais o pescoço, procurando por algo invisível por cima deles. O frio do ar condicionado não ajudava em nada e ele não saia daquela posição de procura.
E seus calafrios aumentavam, até que isto incomodou o rapaz que estava ao lado dele e ele perguntou se ele estava com frio e se queria um casaco.
Ele sorriu tristemente e aceitou o casaco, agradecendo e dizendo que realmente estava com frio.
Fernando se apresentou a Diego e, por ter notado um sotaque espanhol em sua fala e perguntou de onde ele vinha. Ele respondeu que estava vindo do Chile e que já estava viajando ha dois dias... Ele ficou perplexo por ele não ter nada além de uma bolsa tiracolo.
O brasileiro perguntou por que ele, vindo do Chile, onde também está frio nesta época do ano, não trouxera roupas de inverno, ao que ouviu a seguinte resposta suave com lágrimas que queriam escorrer pelos olhos.
Vim atrás da mulher que amo!
Fernando perguntou onde ela estava?
"Em uma cidade chamada Santos... acredito eu que terei que tomar mais um ônibus e nem tenho mais o que vender para uma nova passagem. Mas vou atrás dela nem que tenha que ir a pé, pois a amo demais e ela sabe disso... mas ela não sabe que estou indo!"
Fernando se espantou com a resposta de Diego e disse que coincidência ou não, ele morava em Santos e que poderia dar uma carona ao chileno e levá-lo até a casa de sua amada.
Diego respondeu que até Santos bastaria, pois ele não sabia onde ela morava... só sabia que estava muito doente e que queria que ela soubesse que a amava antes que morresse.
Cada vez mais emocionado com a história que ia se descortinando o santista disse que o ajudaria e, quando chegaram em Santos, levou o rapaz apaixonado a sua casa para que pudessem descansar e procurar alguma pista do endereço da moça.
Logo descobriram por uma amiga comum de Diego e Renata (esse era o nome da moça) que ela havia sido internada no dia anterior. Fernando disse que sabia onde era o hospital e ambos foram até lá.
Perguntaram pela moça na portaria e um senhor que estava próximo chegou perto deles se apresentando como o pai de Renata e perguntando qual dos dois era o Diego.
Como haviam pedido que a amiga da net não contasse que ele estava m Santos os dois se espantaram e o pai vendo o espanto deles disse "Ontem a Renata disse que você chegaria hoje para vê-la em seus últimos momentos, Diego."
Diego sorriu e pediu para vê-la.
Quando entraram no quarto, Fernando esperava encontrar um ambiente triste, mas não foi isso que achou... encontrou uma moça feliz, mesmo aparentemente mal e ligada a aparelhos, com o sorriso mais bonito que já vira em uma mulher, além dos mais belos e calmos olhos.
Sem esperar por nada, Diego se aproximou dela e disse calma e suavemente: "Eu te amo minha flor... " e pegou em suas mãos e deu-lhe um beijo simples nos lábios descorados.
Ela respondeu em meio ao seu sorriso: "Eu te amo minha semente de esperança... Tudo o que você me ensinou me fez chegar a esta hora de forma plena e feliz. Obrigada por me ter apresentado teu Deus e tua Fé! Agora posso partir em paz."
Diego perguntou: "Você me espera junto a Jesus?"
Ela respondeu que sim e pediu um último beijo que ele deu sem pestanejar. Logo em seguida ela faleceu
Passados dois dias Fernando que abrigou Diego em Santos até que se passassem as homenagens fúnebres, perguntou o que Diego ia fazer agora. O Rapaz respondeu que voltaria para casa, pois tinha seus remédios a tomar pois ainda tinha que ajudar outras pessoas antes que sua doença o levasse.
Curioso, Fernando perguntou o que ele tinha.
Diego respondeu: "Tenho Aids, que contraí quando era drogado.Quando descobri a doença, me conscientizei que Deus existe... aprendi a amá-Lo e Ele tem me dado alento e força para poder ajudar outras pessoas que estão com as mais variadas doenças, mas que não acreditam na Bondade do Pai. A Renata me fez amá-la, por ter podido mostrar meu mundo sem que ela me recriminasse e vou encontrá-la quando Deus achar que devo ir. Pude mostrar a ela o Reino de Deus. e fomos muito felizes juntos pelo nosso amor mesmo distantes."
Dito isso, Diego abraçou Fernando, pegou sua bolsa e entrou no ônibus de volta para São Paulo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário